Dunas imensas, límpidas montanhas de areia, a menina correndo igual a uma cabrita para o alto, no rosto a claridade do sol e o zunido do vento, os pés leves e descalços pondo distância entre ela e o homem forte, na pujança dos quarenta anos, a persegui-la. Os sapatos enterram-se na areia; o reflexo do sol cegalhe os olhos; agudo fio de navalha, o vento corta-lhe a pele; o suor escorre pelo corpo inteiro; o desejo e a raiva — quando te pegar, peste, ta arrombo e mato. O desafio bate na face, penetra nos ouvidos do mascate, erguelhe as forças, ele avança. Atenta, a menina espera. Durante o dia, as mulheres pescam no mangue de caranguejos, os homens lançam as redes ao mar. Depois o mascate apareceu e a menina aceitou o convite para o passeio de lancha, vinte minutos de rio, cinco de mar agitado e o esplendor de Mangue Seco. Desta vez agora ela disse vamos, sabendo a que ia. O homem a derruba sobre as folhas dos coqueiros, suspendelhe a saia, arranca-lhe a calçola, trapo sujo.
Daquela vez, no entanto, segundo o serviço nacional de meteorologia, o inverno se antecipara. A ma is fria e a mais triste — como poderia esquecê-la? Estava linda toda coberta de flores, nem parecia morta—apenas adormecida. Beijei a face sem vida, gelada A custo segui o cortejo e vi quando baixaram o corpo à sepultura. Ai que desespero! Que agonia! Titia Cacilda cutucou vovó: .. A embromação dele foi pouca, abraçou papai e vovô, alisou minha cabeça: